No ano de 1706, o galeão espanhol San José embarcou em sua última jornada de Sevilha, Espanha, para as Américas. Considerado uma das mais complexas máquinas já construídas na arquitetura náutica, o destino trágico aguardava o navio. Em 1708, durante a Ação de Wager, o San José foi de uma notável embarcação a um dos objetos mais cobiçados por caçadores de tesouros. Afundou nas águas próximas a Cartagena, Colômbia, carregando consigo ouro, joias e mercadorias estimadas em bilhões nos dias de hoje.
O Plano de Resgate de Gustavo Petro
O presidente colombiano, Gustavo Petro, desencadeou uma corrida pelo tesouro ao instruir o ministério da cultura a estabelecer uma parceria público-privada para resgatar o galeão. Com a intenção de trazer parte do navio à superfície até o final de seu primeiro mandato em 2026, Petro visa não apenas ao resgate material, mas também ao enriquecimento cultural.
Juan David Correa, ministro da cultura, revelou que o governo abrirá um processo de licitação em breve, visando não apenas a recuperação, mas também a criação de um museu e laboratório para estudar e exibir os achados. Este não é um tesouro no sentido do século XIX, ressalta Correa, mas um patrimônio arqueológico submerso, de importância cultural e crítica para a Colômbia.
Conflitos e Reivindicações: Um Mar de Disputas
Mais de 300 anos após o naufrágio, a tentativa de resgatar o San José enfrenta conflitos profundos. Arqueólogos e historiadores condenam o esforço, argumentando que perturbar o navio causaria mais danos do que benefícios. Múltiplas partes, incluindo Colômbia e Espanha, reivindicam o San José e seu conteúdo.
Grupos indígenas e descendentes locais de comunidades afro-caribenhas argumentam que têm direito a reparações, pois seus antepassados exploraram o tesouro. O conflito atingiu seu ápice com um árbitro internacional em Londres, envolvendo a disputa legal desde 1981, quando o grupo Glocca Morra afirmou ter encontrado o San José.
A Profundidade do Mistério e os Desafios
O que reside nas profundezas ainda é um mistério. Historiadores buscam pistas no navio-irmão, San Joaquín, que navegava ao lado do San José. A incógnita persiste sobre como os materiais sobreviveram três séculos submersos.
Ricardo Borrero, arqueólogo náutico, alerta contra qualquer perturbação, destacando os riscos superiores aos benefícios. Propõe que o San José permaneça intacto no leito do mar, oferecendo uma oportunidade única para pesquisas sobre a globalização. Ao invés de mover o navio, Borrero sugere que os pesquisadores explorem essa "cidade submersa", reconstruindo a história do comércio global.
Conclusão: Entre o Resgate e a História Submersa
A saga do San José continua entre a busca pelo tesouro e o desejo de preservar um pedaço crucial da história colombiana. Enquanto Petro visa resgatar o passado, as vozes críticas alertam para os perigos de perturbar um eco de séculos passados. O desfecho desta narrativa, entre a riqueza submersa e a preservação histórica, permanece pendente, à medida que a Colômbia enfrenta o desafio de equilibrar o presente com o legado ancestral que repousa nas profundezas do oceano.